quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quem será o mais esperto?

Continuamos a falar do Corrupção. Desculpem, depois de ver a máquina que esteve a trabalhar nisto nos últimos meses, é irresistível. Prometo que é só mais uma vez para não enjoar. Pelo menos hoje...

Parece que não quiseram mostrar o filme à comunicação social e à crítica antes da estreia. Deve ser a ideia do costume: isto foi feito para os espectadores e não para a crítica, essa associação de malfeitores pseudo-intelectuais.

Só que como a máquina de promoção continua a carborar, o UCI apanhou um exclusivo e as sessões começaram hoje, dia 31, 24 horas antes da estreia nas outras salas.

Não é que eu ache que os críticos de cinema portugueses vão influenciar o que quer que seja a carreira comercial do Corrupção. Mas se o produtor Alexandre Valente julga que não houve críticos suficientemente malucos para ir à sessão da 00h01 para escrever a tempo de sair nos jornais do dia 1, não conhece bem esta malta que andou a tentar evitar.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Avarias de «Corrupção»


Por duas vezes em outros tantos dias, o site oficial do Corrupção esteve em baixo. A mensagem que aparece faz-me acreditar que será um problema técnico provocado pelo número de acessos.

Isto significa que o trabalho de marketing feito antes, durante e após as filmagens foi eficaz e as pessoas estão atentas ao filme. O que são boas notícias para o produtor Alexandre Valente, que já verbalizou que espera chegar aos 100 mil espectadores até ao próximo domingo.

Ainda assim, não consigo deixar de pensar no contador dos dias, horas e minutos que faltam para a estreia do Corrupção que aparece quando o site está a funcionar. O que aconteceu não faz lembrar aqueles relógios digitais que são colocados a dar a contagem decrescente para a inauguração de uma obra e de repente avariam?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Uma concorrida caixa de correio...

Qual o melhor indicador do impacto que um site ou blogue têm na Internet? O número de visitas? As citações noutros sites e blogues? Ou na imprensa "séria"?

Ou o spam que se recebe na caixa de correio?

Arrisco-me a dizer que é este último. O DIAS DE CRISWELL não tem ainda um mês e o que não têm faltado, além dos legítimos contactos dos meus leitores a pedir esclarecimentos (a seu tempo, a seu tempo...), são as ofertas de software e propostas que, sem serem nada de novo para quem tem um e-mail apanhado nas malhas do spam, não deixam de ser sugestivas para quem já vive num caixão há muito tempo.

A "Fannie Dickson" informa-me que "Your new dick is waiting for you", o que não deixa de ser estranho pois não comprei nada no E-Bay nos últimos dias. Mas a Fannie entre em contradição com o "Terence Rivers", que assegura que me pode dar "what you want: bigger cock". Suponho que a "Rhoda Quintana" será uma concorrente: ela dá-me um conselho categórico - "Don't wait! Make your dick bigger!" - e apresenta uma série de propostas. Por sua vez, a "Tonya Summers" ainda lança a dúvida: "Do you deserve something better and bigger cock?", mas depressa dá uma resposta destinada a não ferir o meu amor próprio.

A "Paige Rhodes" é uma rapariga mais ponderada: "Be happy about your size". Ainda assim, acho que não lhe vou escrever a agradecer o elogio...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Delícias da maternidade

Swordfish, 2001
250 mil dólares por mostrar cada uma



Ante-estreia em Londres Things We Lost in the Fire, 2007
Sem preço

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Não é todos os dias...

que estreia em Portugal um filme classificado em 37.º lugar na lista dos piores filmes de sempre pelos utilizadores do IMDB. E também não é todos os dias que nele entra um "vencedor do Oscar da Academia" ® que não se chama Cuba Gooding Jr..

Não, desta vez é o Jon Voigh. Jon, PORQUÊ? Primeiro o Anaconda, depois o Karate Dog e o SuperBabies: Baby Geniuses 2, agora o Bratz, O Filme?

Quero compreender o que se passa. A sério que quero. Sei que tu e a tua filha, a Angelina Jolie, andam zangados há uma série de anos. Mas estás mesmo convencido que vão fazer as pazes se começares a aparecer em filmes tão maus como os dela?


À esquerda, Jon Voight lê o regulamento da Academia para verificar se há alguma regra que obriga a devolver um Oscar depois de uma série de péssimos filmes. À direita, uma versão em terceira mão da Reese Witherspoon em Legalmente Loira.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Tudo como em Hollywood

Ora aqui está um daqueles casos onde se nota bem a diferença entre fazer um Dias de Criswell na PREMIERE e na Internet. Por esta altura já teria entregue os meus Dias para a revista de Novembro, onde teria falado do Corrupção. Tudo dentro do prazo. Mas como não há revista, a verdade é que estou umas boas três semanas atrasado para falar deste assunto.

A oportunidade pare recuperar tempo perdido foi-me proporcionada por um artigo publicado este domingo no Correio da Manhã. Se eu fosse o Miguel Sousa Tavares (MST), diria que era uma das mais abjectas peças de jornalismo em que já tinha posto os olhos em 30 anos de jornalismo. Mas como não sou o MST e não tenho 30 anos de jornalismo (e ele detesta blogues), fico-me apenas por uma constatação: as coisas que se fazem pelo direito a uma exclusivo!

Ao longo de Agosto e Setembro, o Correio da Manhã fez um acompanhamento diário da rodagem do Corrupção. Foi um acordo igual a tantos outros em que, por um lado, o jornal obtinha um exclusivo prolongado sobre a adaptação cinematográfica de um dos livros mais bombásticos dos últimos anos, e por outro o filme beneficiava de mais exposição mediática. Algo perfeitamente normal nas produções lá fora e ainda bem que finalmente o nosso marketing cinematográfico começa a aprender.

O problema que surge com este artigo assinado por Ricardo Tavares é outro: onde acaba o jornalismo e começa o marketing? O texto indica que o filme que está a ser encarado com enorme expectativa vai estrear no primeiro minuto do dia 1 de Novembro em 55 salas, custou um milhão de euros e é protagonizado por Nicolau Breyner e Margarida Vila-Nova, bem como outros conhecidos actores. O produtor, Alexandre Valente (AV), acha que é um filme ao estilo de Os Sopranos, ao mesmo tempo que "fonte da produção" (talvez AV) assegura que Corrupção terá uma grande festa de lançamento e que serão colocados em todo o País cerca de 4000 ‘muppies’ para promover o polémico filme... suponho que AV não tenha mencionado O Padrinho por um de dois motivos: falta de "lata" ou por ter medo que nenhum dos potenciais espectadores conhecesse o filme de Coppola.

A certa altura, adianta-se que Corrupção enfrentou várias contrariedades, nomeadamente, logo nos primeiros dias de trabalho com a proibição de filmar nas escadarias de acesso à Assembleia da República. O que o artigo não menciona em lugar nenhum é que João Botelho era o realizador. E esse esquecimento só se entende se isto for um favor a AV.

É que entre as "várias contrariedades", a mais importante era que o realizador exigira a retirada do seu nome da ficha técnica (tal como Leonor Pinhão, que assina o argumento), depois de AV ter discordado da versão montada pelo realizador e à sua revelia ter cortado 17 minutos e alterado a banda sonora. Já não é a primeira vez que o produtor troca as voltas ao realizador (Carlos Coelho da Silva também teve problemas por causa do O Crime do Padre Amaro) e só entendo que Botelho não tenha tomado precauções por causa do evidente entusiasmo que ele tinha com o projecto. Margarida Vila-Nova ganhou todo o meu respeito: questionada sobre se ver o filme, respondeu que dependia do filme que for exibido.

Corrupção, que se propunha mexer ao mesmo tempo com o mundo do futebol, da justiça e da política, vai afinal tornar-se, em todo o esplendor dos seus 82 minutos (com ou sem créditos?) um "case study" no cinema português por boas e más razões. Uma produção com evidentes ambições comerciais e planeada ao milímetro, como Botelho já merecia há muito tempo, escapa ao controlo criativo do seu realizador. Até ao fim, tudo como em Hollywood.

sábado, 20 de outubro de 2007

Deborah Kerr

Agora que está na moda ver as nossas jovens estrelas fotografadas a sair do automóvel sem roupa interior ou mergulhadas no seu próprio vómito alcoólico, fica aqui a minha singela homenagem a uma grande actriz e senhora que deixou-nos aos 86 anos. Outros tempos, outros talentos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Esta é uma grande vitória...

mas muito longa foi a batalha.

Se 2007 foi o ano dos X-Files, 2008 será o ano do ALIAS: ao fim destes anos todos, finalmente a Lusomundo vai lançar a série em DVD no nosso país.

A alegria da notícia mistura-se com uma certa tristeza. É que falei tantas vezes falei deste assunto nos Dias e no Consultório (Paulo Leitão, está confirmado). Que óptima notícia seria para dar aos leitores da PREMIERE em papel.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Consultório__ 3

José Ferreira (via Internet): Fui hoje arrastado para o Hora de Ponta 3, que só por si é já um dos piores filmes do ano, e por duas vezes a palavra 'constipated' foi traduzida para 'constipado'. A quem não está familiarizado com a língua inglesa, atenção, andam a ser roubados de piadas sobre obstipação (vulgo prisão de ventre)!

Já agora, essa do 'move away three feet' no '
The Brave One/A Estranha em Mim parece indicar um de dois cenários: ou ela vai executar alguém, ou encontramo-nos num espaço fechado e de área reduzida, provavelmente uma prisão. Espero estar enganado.

O José não diz, mas espero que tenha sido arrastado para o Hora de Ponta 3 por um grupo de amigos. Eu nem sou esquisito com os filmes, mas para este só tem mesmo essa desculpa. Que tenham feito mais um faz-me lembrar aqueles que se põem a chicotear um cavalo que chegou ao limite do esforço. O seu Subtitlespotting... bem, como sabe, as comédias são as que mais sofrem com a falta de subtileza de alguns dos nossos tradutores. Mesmo quando as piadas, como é aqui o caso, são básicas.

Em relação ao The Brave One, não se preocupe. Qualquer um dos seus cenários não serve para este 'move away three feet'. Tem de ver para acreditar. Depois falamos. Já agora, fica um pormenor significativo: ao longo do filme a Jodie Foster usa ao pescoço um crucifixo que lhe foi dado pelo namorado, mas o cartaz reproduz um símbolo muito mais... neutro.

sábado, 13 de outubro de 2007

Os bifes do Hitler

Definição de "Beef" (1): A full-grown steer, bull, ox, or cow, especially one intended for use as meat.

Definição de "Beef" (2): bickering, criticism, dispute, grievance, gripe, grouse, grumble, objection, protestation, quarrel, squabble

Definição de "Beef" (2)



Definição de "Beef" (1)



O Sargento da Força 1

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Subtitlespotting em Mim...

Não se deixem desmotivar pelas críticas mais negativas ou pelos artigos que dizem que A Estranha em Mim não rendeu nos Estados Unidos as receitas que os analistas estavam à espera. E mesmo se a vida e morte, e uma angustiante solidão, estão de mãos dadas e confundem-se com a Nova Iorque pós-11 de Setembro na assombrosa personagem que Jodie Foster desempenha ("assombrosa"... parece que me estou mesmo a lançar numa crítica "especializada"), façam o favor de não a confundir com o granítico Charles Bronson e muito menos dizer que A Estranha em Mim é o Vigilante da Noite do século XXI.

Análises à parte, o que interessa é que no dia 18 chega um grande filme às salas. E também um grande subtitlespotting. A certa altura, uma personagem diz a outra algo como "Move away three feet". Vamos arredondar a tradução para "afaste-se 1 metro". A legendagem dá-nos um mais abrangente "afaste-se 100 metros". Reparem que usam "metros", por isso não é um caso de ter pressionado vezes a mais a tecla do "0".

Tenho de ter muito cuidado com o que escrevo a seguir, pois não quero estragar a ninguém a experiência de ver o filme do Neil Jordan, mas só quando virem o momento em que isto é dito, onde é dito e o que significa, é que vão perceber completamente a enormidade, a dimensão brutal deste subtitlespotting. Vão ver o filme, vejam o contexto da cena. Digam-me depois como reagiram (e os outros espectadores) e se não acham que está encontrado "o" subtitlespotting de 2007.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Consultório__ 2

O Luís Salvado avisou-me que ele e o José Vieira Mendes estão daqui a pouco no Curto Circuito para falar sobre o fim da PREMIERE. Por isso achei que era apropriado deixar esta mensagem que recebi do João Belchior:

CARAMBA!

Desculpe mas é a única interjeição que me ocorre (pelo menos daquelas que possam ser ditas) quando li o editorial da última PREMIERE! A revista vai ser descontinuada?!?

Fiquei tristíssimo ao sabê-lo... Como é possível? Assim, sem aviso? Sem tempo para uma última edição especial? Que raio de falta de consideração a HACHETTE tem pelos seus leitores!!!

Deixe-me que lhe diga, mas um dos meus enormes prazeres de início do mês era ir à procura da PREMIERE e tentar não a devorar toda de uma só vez... Tentar que as suas páginas durassem o maior número de dias… Poucas foram as publicações (aliás, não me lembro de nenhuma outra!) que tiveram este impacto em mim.

Mais uma vez se prova que, em Portugal, tudo o que não for massificante (leia-se, estupidificante) acaba por não ter espaço para crescer.

Resta-me dizer-lhe, caro Mestre (e ao fazê-lo a si sei que estou a estendê-lo à restante equipa) que, consigo, aprendi, me diverti e apurei o meu sentido crítico relativamente ao Cinema.

Obrigado e… até um dia destes (nesta ou noutra vida!)



É verdade que não deu para preparar um número especial e a capa não é das melhores. Até ainda lá vem o www.premiere.pt que já foi desactivado. Mas ainda deu para fazer uma "pequena" despedida. Acredite, há revistas que acabam de um momento para o outro e as pessoas que as fazem só ficam a saber depois de acabarem o número. Pelo menos a redacção da PREMIERE ainda conseguiu passar alguns recados... e eu também. Agradeço em nome de todos os que fizeram a Revista de Cinema ao longo de oito anos. E faço-lhe um pedido: não desista já deste país.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

É hoje!


Última série: RTP 2 às 22h40.

domingo, 7 de outubro de 2007

Consultório__ 1

Raquel Evangelina (via Internet): Esta semana no Jornal de Notícias vinha a informação da saída do grupo Hachette do país e com a saída a extinção da revista PREMIERE. É verdade? Na minha opinião acho um erro até porque fora a PREMIERE não há revista que dê destaque ao cinema, a maior parte faz um destaque maior quando se trata de um blockbuster e pouco mais que isso de resto todas as revistas dão mais destaque à vida pessoal dos actores do que propriamente aos filmes... Se vai realmente acabar a revista acho uma pena... Para cinema não há revista como a PREMIERE e para cinéfilos como eu é uma desilusão...

Parece-me apropriado começar o primeiro "Consultório" virtual com a última carta que me escreveram recebida pelo mail da PREMIERE. Por esta altura a Raquel já terá a revista e confirmou com os seus próprios olhos o que aconteceu. Um sinal de esperança: o blogue da Premiere vai continuar e de certeza será um espaço de referência para quem navega pela Internet e gosta de cinema. Leia a declaração de intenções da equipa.

Já não há muito mais a dizer. A revista tinha custos baixos (no que diz respeito às despesas com a redacção, colaboradores), houve alterações no departamento de marketing (acabou-se com a oferta daqueles perfumes a quem assinasse a revista, substituindo-os pelos mais apropriados DVDs) e as receitas de publicidade estavam a duplicar todos os meses.

Também a tiragem estava consolidada, embora longe dos irrealistas 60 mil que o Grupo desejava desde 1999 (neste momento, só as revistas que falam bastante do mercado cor-de-rosa conseguem esses números). Imprimir 18 mil exemplares e vender 17 mil é óptimo. Principalmente se pensarmos que a revista era mal distribuída em muitos pontos do país, com os leitores a fazerem autênticas operações de busca para conseguir o seu exemplar. Além disso, os assinantes, que deviam ser os mais acarinhados, eram tratados abaixo de cão.

Lembram-se de me perguntar por que razão a PREMIERE não oferecia posters ou DVDs com trailers? A Hachette nunca teve interesse em angariar investimento que permitisse concretizar essas iniciativas. Para eles, o que interessava era vender as páginas de publicidade e enfiar lá no meio umas tantas sobre cinema. Se dependesse deles, era tudo traduzido da espanhola Fotogramas. Contaram-me que a PREMIERE teve a primeira oportunidade de participar na divulgação do Senhor dos Anéis antes da estreia da Irmandade do Anel: a LNK oferecia um CD exclusivo (ou DVD, não tenho a certeza), mas o departamento de marketing rejeitou a proposta porque ainda queria ser (bem) pago para avançar. Uma completa falta de visão estratégica, se pensarmos no terramoto cinematográfico que aconteceria poucos meses depois.

Se querem que vos diga, acho que foi um milagre a PREMIERE ter aguentado tanto tempo com este tipo de "gestão".

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Mulher de Vermelho



A deusa tal como apareceu na ante-estreia de The Darjeeling Limited ontem em Los Angeles.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Apanha-me Se Puderes...



Pela última vez, os intrépidos leitores da PREMIERE fora do centro de Lisboa vão percorrer várias bancas de jornais até encontrar um exemplar da sua revista de cinema.

Quantos irão apanhar um choque ao ler as primeiras páginas?

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Made in...

Aqui há uns anos atrás Un long dimanche de fiançailles não recebeu financiamento estatal francês porque era produzido por uma companhia integrada na muito americana Warner Bros. Foi meio caminho andado para também não ser o candidato da França às pré-nomeações do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, prémio que tinha fortes hipóteses de ganhar se fosse nomeado. Um tribunal decidiu que era "muito americano", apesar de ter um realizador francês (Jean-Pierre Jeunet), uma equipa artística e técnica maioritariamente francesa, e, naturalmente, ser falado em francês.

Belle Toujours também é 100% em francês. Mas isso não impediu agora que a comissão de selecção do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), formada pelos "suspeitos do costume" que ninguém conhece fora do circuito mas que há anos nos impingem a sua ideia de cinema português — Acácio de Almeida, Alberto Seixas Santos, Carmen Santos, João Nunes, José Carlos Oliveira, Patrícia Vasconcelos, Paulo Trancoso, Pedro Borges e Raquel Almeida —, o escolhesse como o candidato português ao Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para o Melhor Filme Estrangeiro.

Vamos por partes. As regras da Academia apenas exigem que os filmes candidatos na categoria tenham estreado entre Outubro e Setembro no país de origem, que deve também assegurar que o talento criativo desse país exerceu o controlo artístico do filme, e que a língua predominante não seja o inglês. Manoel de Oliveira realiza e escreve o argumento, os franceses Michel Piccoli e Bulle Ogier protagonizam, e entre os actores aparece o inconfundível Ricardo Trêpa. A restante equipa técnica é uma miscelânea em que o português devia ser a língua pátria menos falada. Sendo uma co-produção entre Portugal e França, é natural que o financiamento tenha vindo destes dois países. É um bocado forçado, mas se centrarmos tudo em Oliveira, as regras são mais ou menos cumpridas (em todo o caso, será a Academia a tomar as decisões sobre estas questões de elegibilidade).

Não quero aqui reduzir o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro a uma questão de língua ou da nacionalidade das cabeças artísticas. A história do cinema está cheia de filmes que cruzam línguas e nacionalidades. Para não ir mais longe, Transe, de Teresa Villaverde, coloca Ana Moreira a falar russo e a maior parte da história nem se passa em Portugal.

A minha questão é outra. Entre os filmes que estrearam entre 1 de Outubro e 30 de Setembro estão Transe, Filme da Treta, Viúva Rica Solteira Não Fica, Juventude em Marcha, 20,13, Suicídio Encomendado, dot.com, O Mistério da Estrada de Sintra, Atrás das Nuvens, Belle Toujours e O Capacete Dourado. Virgilio Castelo dizia numa entrevista há quase 20 anos no saudoso S7te que gostava que o cinema português fosse menos... francês. Não interessa agora discutir se a decisão é mais do mesmo e apenas vai reforçar essa imagem. Ou se isto apenas vai ajudar Portugal a manter o recorde de país que mais vezes submeteu filmes aos Oscares sem nunca ter sido nomeado. Mas olhando para a lista de candidatos, ver a Comissão de Selecção dizer que Belle Toujours é o filme que "melhor representa o cinema português" só dá mesmo vontade de rir.