terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O melhor dos Óscares

Gostei mais do Jon Stewart há dois anos, mas acho que fez o melhor trabalho possível dadas as circunstâncias. Por causa da greve dos argumentistas, teve que ser tudo organizado em pouco tempo e toda a cerimónia sofreu com isso. Mas é curioso: os críticos americanos gostaram mais dele desta vez, por isso espero que volte a ser anfitrião no futuro.

Em resumo, Marion Cotillard foi uma delícia, Javier Bardem transpirou entusiasmo, Daniel Day-Lewis e Tilda Swinton classe. Os Coen foram... lacónicos. Mas se há momentos que definem uma cerimónia dos Óscares, o deste ano, para o bem e para o mal, foi o da entrega da estatueta para Melhor Canção.

Pouco tempo antes, Colin Farrell introduziu Glen Hansard e Marketa Irglova para cantar Falling Slowly, e logo aí se percebeu pelo ambiente na sala do Kodak Theather que eles eram os favoritos sentimentais numa categoria em que estavam três canções de Uma História de Encantar.

Era a melhor entre as nomeadas e ouvi-la na cerimónia foi um belíssimo momento, mas todos sabemos como a Academia gosta da Disney. No entanto, quando John Travolta repetiu a lista dos nomeados, o tom dos aplausos para a canção de Once não enganou e logo a seguir Hansard e Irglova subiram ao palco debaixo dos mais genuínos aplausos de toda a cerimónia. O primeiro fez um dos mais sentidos discursos da noite, mas quando Irglova ia falar, nem conseguiu dizer um "Thank You" antes de ser interrompida pela orquestra.

Fiquei lixado. Um momento que estava a ser magnífico estragado pela obsessão com os 45 segundos de discurso. Será que os produtores do espectáculo não percebiam que esta forma de cortar a direito inibe os premiados de tal forma que um dia a Academia fica sem momentos memoráveis das cerimónias para mostrar nas suas tão amadas montagens? A mesma obsessão pela duração da cerimónia que, pelos vistos, fez com que Brad Renfro ficasse de fora do In Memoriam. Ou que não existisse um tributo especial a Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman.

Estava eu a ruminar a minha revolta durante mais um intervalo, quando a cerimónia recomeçou e aconteceu uma coisa que não me recordo de alguma vez ter visto nos Óscares: Jon Stewart trouxe de volta a cantora checa (19 anos, até faz impressão) para fazer o seu discurso. E as suas palavras sobre a luta dos músicos independentes e "a esperança que nos une a todos" derreteram a audiência.

[As notícias referem que foi o produtor Gil Cates a pedir para a trazerem de volta pois sempre existira a intenção de ouvi-la e a interrupção da orquestra fora um acidente: o maestro Bill Conti estava a olhar para baixo e não se apercebeu do que estava a acontecer. Para ser justo, revendo a gravação vê-se que a orquestra começou a tocar e parou uns segundos mais tarde, só que Irglova já se tinha retirado].

A Academia já mandou limpar os vídeos no YouTube, mas para quem agora tiver ficado com vontade de ver o que aconteceu, será uma questão de tempo até voltarem a ficar disponíveis.

Fair play to those who dare to dream and don't give up...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Confissões a começar

Ok, vai começar.

Vamos a ver: Este País Não É Para Velhos, Coen, Daniel Day-Lewis, Julie Christie, Javier Bardem, Tilda Swinton, Juno e Este País Não é Para Velhos (argumentos), Ratatui.

E agora, pipocas e pantufas...

Confissões a 30 minutos dos Óscares

A cerimónia já está quase a começar. Já estamos a ver as primeiras imagens de Los Angeles e é aproveitar enquanto não começa a publicidade. Será por isso uma boa altura para lançar o cliché: tudo o que envolve gostos é subjectivo e não podemos esperar que os Óscares decretem uma espécie de "justiça cinematográfica". Não há resultados "justos" . No máximo, um prémio é justo apenas quando visto isoladamente, sem pensar nos outros que ficaram para trás. E só podemos desejar é que não seja um daqueles anos em que as escolhas não sejam todas um escândalo... subjectivo.

A este propósito, vale a pena lembrar que qualquer adepto dos Óscares passa por três fases na sua relação. Para as visualizarmos melhor, vou usar como exemplo as transmissões em directo da cerimónia em Portugal. A primeira fase é a de amor: tudo é deslumbrante, cerimónia e premiados (mesmo que algumas das nossas escolhas fossem outras). Achamos espectacular que afinal a Academia tenha apreciado o valor do Silêncio dos Inocentes (1992), reconhecido Eastwood e Imperdoável (1993) ou consagrado Spielberg e A Lista de Schindler (1994).

Depois, há um ano em que acontece alguma coisa que não é do nosso agrado. E depois outro. Percebemos, com alguma amargura, que tínhamos uma visão idealista e pura dos Óscares. E descobrimos que existem jogos de bastidores, campanhas de marketing, políticas e tabelas de popularidade. Quem vai a mais talk-shows, festas ou é recomendado pelo Roger Ebert ou a Oprah.

O grande amor desaparece, mas não deixamos de ter respeito pelos Óscares. São os anos em que ganha Forrest Gump em vez de Pulp Fiction, Braveheart e não o nosso adorado O Carteiro de Pablo Neruda (ou, vá lá, o Apollo 13), O Paciente Inglês "rouba" Fargo, Titanic recebe 11 estatuetas e LA Confidential duas ou A Paixão de Shakespeare ultrapassa no fim O Resgate do Soldado Ryan (vá lá, vocês sabem bem que A Barreira Invisível nunca teve hipóteses e A Vida é Bela ganhava o Melhor Filme Estrangeiro).

Depois acontece algo chocante. Para a qual procuramos encontrar uma explicação racional e não conseguimos. De repente, caiu a máscara. Perdemos o respeito pelos Óscares. Encontramos-lhes todos os defeitos. Recordamos todos os "erros" que a Academia fez no passado. Malandros, como se atreveram a premiar o Gente Vulgar em vez do Touro Enraivecido? Como foram tão cegos e preferiram o Danças com Lobos ao Tudo Bons Rapazes?

Nada será como antes. O exemplo mais recente de uma hecatombe deste género foi em 2002, quando Ron Howard foi considerado o melhor realizador por Uma Mente Brilhante quando estavam nomeados o Robert Altman e o David Lynch. Ou Chicago receber o Oscar de Melhor Filme um ano mais tarde.

A partir daí, olhamos para os Óscares com um bocadinho de amor, respeito e por vezes choque. Aplaudimos os prémios que achamos mais "justos" e abanamos a cabeça em relação a outros. E todos os anos procuramos um sinal de que será possível recuperar o amor perdido...

Confissões a 60 minutos dos Óscares

Deixei de ver a cerimónia através da TVI em 2001. Nada contra os comentários do Vítor Moura e do José Vieira Mendes. Com uma ou outra excepção, aprenderam que o som que vem de Los Angeles é sagrado e dispensa ruído de fundo. Mas depois daquele canal ter interrompido a subida da Kim Basinger ao palco para receber o seu prémio por LA Confidential para passar um anúncio com a Claudia Schiffer a sair de um automóvel , jurei que não descansaria enquanto não encontrasse uma alternativa.

Há anos atrás, ela surgiu: para quem tiver o privilégio do satélite, o canal alemão Pro7 faz exactamente a mesma transmissão. E ganhei uma espécie de acesso exclusivo à passadeira vermelha. Antes dos Óscares propriamente ditos há o pre-show com a chegada das estrelas, mas por sistema, a TVI transmite os primeiros 5 minutos e quando a ABC vai para intervalo, eles fazem o mesmo. Só que o deles dura dois minutos, enquanto o nosso é como as pilhas do coelho Duracel: dura e dura, e quando damos por isso, o programa está quase no fim.

Confissões a 90 minutos dos Óscares

Que as expressões "irmãos Coen" e "favoritos aos Óscares" alguma vez pudessem ser combinadas na mesma frase mostra como os prémios da Academia não são exactamente aquela coisa tenebrosa que os seus detractores comentam sempre por esta altura. E depois da seca dos últimos anos (convenhamos que a produção andava um pouco por baixo desde os tempos de Fargo e O Grande Lebowski), o melhor é mesmo aproveitar Este País Não É Para Velhos: os astros podem nunca mais voltar a convergir para a tal combinação.

Mas, para que fique claro, este ano sou um "milkshake man". Por mim, Haverá Sangue era Melhor Filme, Realização, Actor e Argumento Adaptado. Pelo menos. Mas uma vez que isso é pouco provável, claro que ficarei contente se a alternativa for a consagração pela indústria dos Coen. E se ganharem o desgraçado do Kevin O'Connell, nomeado 20 vezes (este ano é pelo som do Transformers) e o sagrado director de fotografia Roger Deakins. Este ainda está 7 a 0 e está nomeado por dois filmes, o que vai dividir os votos. Além disso, tem uma forte concorrência do Janusz Kaminski pelo Escafandro e a Borboleta e do Robert Elswit pelo filme do Paul Thomas Anderson. Se Este País Não É Para Velhos começar a fazer uma "limpeza", as chances de Deakins aumentam, mas se fosse eu a decidir, o trabalho premiado era o outro...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Missão dada é missão cumprida

Deus disse que iria fazer o mundo em 7 dias.
Capitão Nascimento disse bem alto: "Faça em 6, sr. zero-um!"


Para quem ainda não o viu, Tropa de Elite conta a história do capitão Nascimento (um espantoso Wagner Moura, que amigas me disseram ser uma revelação recente nas telenovelas). Ele pertence ao BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), um ramo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro que combate os traficantes de droga nas favelas daquela cidade, e é encarregue de eliminar ameaças antes da visita de João Paulo II à cidade em 1997.

Paralelamente, seguimos as histórias de Gouveia e Matias, candidatos a substituir Nascimento, que, prestes a ser pai, se quer retirar. Apesar de ser muito bom naquilo que faz. Que fica para o espectador descobrir.

Para uns, Tropa de Elite glorifica a violência e é fascista, uma vez que parece legitimar o seu uso, bem como o da tortura. Afinal de contas, frases proferidas por Nascimento entraram já na cultura popular e os seus actor foram aplaudidos por muitos espectadores nas salas. Ou seja, quase 40 anos depois do inspector Harry Callahan, nada de novo.

Mas outros, incluindo Mestre Criswell, acham-no muito mais complexo e reconhecem ao filme de José Padilha, para além do valor cinematográfico, uma importância social inestimável. Claro que para os espectadores brasileiros, isso ainda é mais evidente. Eles vivem com aquilo. Por "aquilo", entenda-se a violência que existe no país e em particular no Rio de Janeiro, onde ninguém pára nos semáforos vermelhos à noite e traficantes e polícia lutam entre si recorrendo aos mesmos meios. A vida humana parece valer muito pouco para uns e outros, que aliás têm os mesmos vícios. É o seu realismo que provoca incómodo. E daí as comparações com Cidade de Deus.

Agora que Tropa de Elite ganhou o principal prémio no Festival de Cinema de Berlim, parece seguro que a Lusomundo finalmente vai lançar nas nossas salas o maior sucesso dos últimos anos do cinema brasileiro. Com meses de atraso. No país-irmão, o filme chegou mais cedo às salas porque uma cópia de trabalho foi pirateada para DVD e estava a ser um sucesso na Internet. Em Portugal, quando se tornou evidente que estava a acontecer o mesmo (bastava visitar os fóruns), deviam ter feito o mesmo. E como alguns sectores da nossa sociedade ainda pensam que estão a viver no dia 25 de Abril de 1974 (sem dúvida que isso acontece com alguma crítica e muita da comunidade artística), certamente que não vão faltar os que queiram desmascarar o seu "fascismo".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Jumper teletransporta talentos para local desconhecido

Como fã das histórias de Steven Gould, fiquei contente quando soube que o Doug Liman ia ser o responsável pela adaptação cinematográfica das aventuras de David Rice, um rapaz aparentemente comum que descobre que tem o extraordinário poder de se teletransportar para onde quiser. O trailer não esfriou as expectativas. Daí que a minha desilusão seja ainda maior. Há uma boa expressão portuguesa: Jumper não é carne nem peixe.

Os Jumpers têm uns inimigos mortais chamados Paladinos. Enfrentam-se desde tempos imemoriais. Aparentemente só Deus deve ter um poder destes, mesmo se o vilão não pareça ser dos que frequentam a igreja aos domingos. O filme não perde muito tempo a dar explicações para isso, afinal de contas, só tem 88 minutos, créditos incluídos. Mas este é um exemplo típico de um pormenor apresentado de forma atabalhoada, mesmo amadora. Por exemplo, a certa altura, descobre-se que existe uma forma dos jumpers serem detectados. E depois há um máquina que permite aos paladinos seguirem-nos. Tudo isto parece que é inventado conforme a história avança, o que não é verdade. Mas para quem não conheça os livros, nada disto faz muito sentido. É como se, por osmose, a greve dos argumentistas tivesse já feito de Jumper a sua primeira vítima no grande ecrã.

Jumper é um paradoxo cinematográfico. Demasiado curto para desenvolver personagens, conflitos, demasiado comprido para tanta banalidade. O que dizer mais? Que, tal como sucedeu com A Bússola Dourada, não estamos verdadeiramente perante um filme, mas um teaser, um aperitivo para uma sequela em que se espera que realmente aconteça alguma coisa mais interessante? Que Samuel L. Jackson, no papel do vilão/paladino-mor, com um ridículo penteado platinado, fez mais um filme apenas pelo cheque? Que o dinamismo e estilo do realizador do Swingers ou do Go, para já não falar do primeiro Bourne, está tristemente ausente?

Nem tudo é mau. Os efeitos especiais são competentes, como era de esperar, mas só ajudam até certo ponto. AnnaSophia Robb e Max Thieriot, que interpretam as personagens que depois serão de Rachel Bilson e Hayden Christensen, são bons e cativam o nosso interesse. E os primeiros 15-20 minutos, em que o improvável herói descobre os seus poderes e depois os explora de maneiras pouco legítimas, são uma boa introdução para o que se esperava que acontecesse a seguir. Jamie Bell, no papel de um outro Jumper, dá ao filme a vitalidade que este tão desesperadamente necessita. Ele e Christensen deviam ter trocado de personagens.

O que me leva a outra questão. Nunca tive grandes expectativas para a rapariga do The OC. Christensen é outra conversa. Acho que já deu provas de ter talento. Foi muito bom no Shattered Glass: Verdade ou Mentira. Aguentou-se muito bem no Uma Casa, uma Vida ao lado do Kevin Kline. Ao contrário de muitos, não tive problema nenhum com o seu Anakin Skywalker, principalmente na Vingança dos Sith. Mas senti-me traído com Jumper. Ele é realmente aborrecido, inerte. Como é que agora o vou defender junto dos meus amigos, que acham que ele é o novo Paul Walker?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Haverá Sangue... e os outros?


Finalmente vi o Haverá Sangue do Paul Thomas Anderson. Comandado por um fascinantemente contraditório Daniel Day Lewis, trata-se de uma experiência hipnótica do início ao fim. Aliás, este é o tipo de filme em que não convém mesmo chegar um segundo atrasado. Uma saga infernal sobre o capitalismo e a fé... e a falta dela (não apenas religiosa). O poder, a ganância, a corrupção, . E sobre a solidão, a desumanização levada ao extremo da crueldade. Um Gangs de Nova Iorque no outro lado do país. O melhor filme de PTA? Mesmo à frente de Magnolia? Provavelmente.

Tudo isto recordou-me como fiquei frio ao conhecer as nomeações aos Oscares. Nunca como este ano as pessoas que gostam de cinema foram roubadas da oportunidade de "brincar aos Oscares". De discutir as nomeações, os seus méritos e omissões. Até então, dos cinco nomeados, apenas estreara o Expiação, um filme simpático que começa de forma portentosa, mas depois é sempre a cair na banalidade narrativa. Haverá Sangue estreia na próxima quinta-feira, Michael Clayton e Juno no dia 21. Os Oscares são a 24 e, incrivelmente, aquele que tudo indica ser o vencedor, Este País Não É Para Velhos, dos Coen, chega depois, a 28.

Não sei se estas datas foram decididas em Portugal ou impostas pelas distribuidoras internacionais. Mas olho para estes filmes agora encavalitados uns em cima dos outros (Michael Clayton chegou a estar marcado para Outubro e entretanto já saiu em DVD nos Estados Unidos) e pergunto: o que aconteceu às pessoas que tratam do marketing dos filmes? Estarão de tal forma formatadas nos filmes-acontecimento, nos blockbusters que basicamente se vendem por si, que não conseguem promover um filme que pareça mais "artístico" sem depender exclusivamente dos Oscares?

Terá desaparecido o talento, a vontade para pensar uma campanha de divulgação baseada, vamos lá, nos méritos artísticos de um filme? Será que os profissionais olham, por exemplo, para o filme dos irmãos Coen, e tremem de medo quando constatam com horror que ele é, essencialmente, um western? Depois venham queixar-se da pirataria...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Matt Damon é o gajo mais porreiro do mundo

Matt Damon tem sido ao longo dos anos alvo de uma piada do seu amigo Jimmy Kimmel, um apresentador do Late Night americano. Ele termina o seu programa dizendo apologies to Matt Damon, we ran out of time, ou seja, já não há tempo para o receber como último convidado. No ano passado, até enviou o seu segurança do parque de estacionamento para a ante-estreia do Ocean´s 13 fazer o mesmo....

Agora, a propósito do quinto aniversário do Jimmy Kimmel Live na estação ABC, a sua namorada, a explosiva Sarah Silverman (quem não a conhece, veja o que ela faz a Paris Hilton e Britney Spears), decidiu oferecer um vídeo musical que revela um terrível segredo que se está a tornar um grande sucesso...