segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Confissões a 30 minutos dos Óscares

A cerimónia já está quase a começar. Já estamos a ver as primeiras imagens de Los Angeles e é aproveitar enquanto não começa a publicidade. Será por isso uma boa altura para lançar o cliché: tudo o que envolve gostos é subjectivo e não podemos esperar que os Óscares decretem uma espécie de "justiça cinematográfica". Não há resultados "justos" . No máximo, um prémio é justo apenas quando visto isoladamente, sem pensar nos outros que ficaram para trás. E só podemos desejar é que não seja um daqueles anos em que as escolhas não sejam todas um escândalo... subjectivo.

A este propósito, vale a pena lembrar que qualquer adepto dos Óscares passa por três fases na sua relação. Para as visualizarmos melhor, vou usar como exemplo as transmissões em directo da cerimónia em Portugal. A primeira fase é a de amor: tudo é deslumbrante, cerimónia e premiados (mesmo que algumas das nossas escolhas fossem outras). Achamos espectacular que afinal a Academia tenha apreciado o valor do Silêncio dos Inocentes (1992), reconhecido Eastwood e Imperdoável (1993) ou consagrado Spielberg e A Lista de Schindler (1994).

Depois, há um ano em que acontece alguma coisa que não é do nosso agrado. E depois outro. Percebemos, com alguma amargura, que tínhamos uma visão idealista e pura dos Óscares. E descobrimos que existem jogos de bastidores, campanhas de marketing, políticas e tabelas de popularidade. Quem vai a mais talk-shows, festas ou é recomendado pelo Roger Ebert ou a Oprah.

O grande amor desaparece, mas não deixamos de ter respeito pelos Óscares. São os anos em que ganha Forrest Gump em vez de Pulp Fiction, Braveheart e não o nosso adorado O Carteiro de Pablo Neruda (ou, vá lá, o Apollo 13), O Paciente Inglês "rouba" Fargo, Titanic recebe 11 estatuetas e LA Confidential duas ou A Paixão de Shakespeare ultrapassa no fim O Resgate do Soldado Ryan (vá lá, vocês sabem bem que A Barreira Invisível nunca teve hipóteses e A Vida é Bela ganhava o Melhor Filme Estrangeiro).

Depois acontece algo chocante. Para a qual procuramos encontrar uma explicação racional e não conseguimos. De repente, caiu a máscara. Perdemos o respeito pelos Óscares. Encontramos-lhes todos os defeitos. Recordamos todos os "erros" que a Academia fez no passado. Malandros, como se atreveram a premiar o Gente Vulgar em vez do Touro Enraivecido? Como foram tão cegos e preferiram o Danças com Lobos ao Tudo Bons Rapazes?

Nada será como antes. O exemplo mais recente de uma hecatombe deste género foi em 2002, quando Ron Howard foi considerado o melhor realizador por Uma Mente Brilhante quando estavam nomeados o Robert Altman e o David Lynch. Ou Chicago receber o Oscar de Melhor Filme um ano mais tarde.

A partir daí, olhamos para os Óscares com um bocadinho de amor, respeito e por vezes choque. Aplaudimos os prémios que achamos mais "justos" e abanamos a cabeça em relação a outros. E todos os anos procuramos um sinal de que será possível recuperar o amor perdido...

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