Capitão Nascimento disse bem alto: "Faça em 6, sr. zero-um!"
Para quem ainda não o viu, Tropa de Elite conta a história do capitão Nascimento (um espantoso Wagner Moura, que amigas me disseram ser uma revelação recente nas telenovelas). Ele pertence ao BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), um ramo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro que combate os traficantes de droga nas favelas daquela cidade, e é encarregue de eliminar ameaças antes da visita de João Paulo II à cidade em 1997.
Paralelamente, seguimos as histórias de Gouveia e Matias, candidatos a substituir Nascimento, que, prestes a ser pai, se quer retirar. Apesar de ser muito bom naquilo que faz. Que fica para o espectador descobrir.
Para uns, Tropa de Elite glorifica a violência e é fascista, uma vez que parece legitimar o seu uso, bem como o da tortura. Afinal de contas, frases proferidas por Nascimento entraram já na cultura popular e os seus actor foram aplaudidos por muitos espectadores nas salas. Ou seja, quase 40 anos depois do inspector Harry Callahan, nada de novo.
Mas outros, incluindo Mestre Criswell, acham-no muito mais complexo e reconhecem ao filme de José Padilha, para além do valor cinematográfico, uma importância social inestimável. Claro que para os espectadores brasileiros, isso ainda é mais evidente. Eles vivem com aquilo. Por "aquilo", entenda-se a violência que existe no país e em particular no Rio de Janeiro, onde ninguém pára nos semáforos vermelhos à noite e traficantes e polícia lutam entre si recorrendo aos mesmos meios. A vida humana parece valer muito pouco para uns e outros, que aliás têm os mesmos vícios. É o seu realismo que provoca incómodo. E daí as comparações com Cidade de Deus.
Agora que Tropa de Elite ganhou o principal prémio no Festival de Cinema de Berlim, parece seguro que a Lusomundo finalmente vai lançar nas nossas salas o maior sucesso dos últimos anos do cinema brasileiro. Com meses de atraso. No país-irmão, o filme chegou mais cedo às salas porque uma cópia de trabalho foi pirateada para DVD e estava a ser um sucesso na Internet. Em Portugal, quando se tornou evidente que estava a acontecer o mesmo (bastava visitar os fóruns), deviam ter feito o mesmo. E como alguns sectores da nossa sociedade ainda pensam que estão a viver no dia 25 de Abril de 1974 (sem dúvida que isso acontece com alguma crítica e muita da comunidade artística), certamente que não vão faltar os que queiram desmascarar o seu "fascismo".
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