domingo, 10 de fevereiro de 2008

Haverá Sangue... e os outros?


Finalmente vi o Haverá Sangue do Paul Thomas Anderson. Comandado por um fascinantemente contraditório Daniel Day Lewis, trata-se de uma experiência hipnótica do início ao fim. Aliás, este é o tipo de filme em que não convém mesmo chegar um segundo atrasado. Uma saga infernal sobre o capitalismo e a fé... e a falta dela (não apenas religiosa). O poder, a ganância, a corrupção, . E sobre a solidão, a desumanização levada ao extremo da crueldade. Um Gangs de Nova Iorque no outro lado do país. O melhor filme de PTA? Mesmo à frente de Magnolia? Provavelmente.

Tudo isto recordou-me como fiquei frio ao conhecer as nomeações aos Oscares. Nunca como este ano as pessoas que gostam de cinema foram roubadas da oportunidade de "brincar aos Oscares". De discutir as nomeações, os seus méritos e omissões. Até então, dos cinco nomeados, apenas estreara o Expiação, um filme simpático que começa de forma portentosa, mas depois é sempre a cair na banalidade narrativa. Haverá Sangue estreia na próxima quinta-feira, Michael Clayton e Juno no dia 21. Os Oscares são a 24 e, incrivelmente, aquele que tudo indica ser o vencedor, Este País Não É Para Velhos, dos Coen, chega depois, a 28.

Não sei se estas datas foram decididas em Portugal ou impostas pelas distribuidoras internacionais. Mas olho para estes filmes agora encavalitados uns em cima dos outros (Michael Clayton chegou a estar marcado para Outubro e entretanto já saiu em DVD nos Estados Unidos) e pergunto: o que aconteceu às pessoas que tratam do marketing dos filmes? Estarão de tal forma formatadas nos filmes-acontecimento, nos blockbusters que basicamente se vendem por si, que não conseguem promover um filme que pareça mais "artístico" sem depender exclusivamente dos Oscares?

Terá desaparecido o talento, a vontade para pensar uma campanha de divulgação baseada, vamos lá, nos méritos artísticos de um filme? Será que os profissionais olham, por exemplo, para o filme dos irmãos Coen, e tremem de medo quando constatam com horror que ele é, essencialmente, um western? Depois venham queixar-se da pirataria...

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