sábado, 22 de março de 2008

Dá-me o telemóvel já!

A aula era de Francês, mas parece que o mais interessante foi mesmo dito em Português. Muito se tem comentado este video da aluna histérica do liceu Carolina Michaelis no Porto a atirar-se à professora por causa do telemóvel.

Claro que esta história deu origem ao habitual debate sobre o estado a que isto chegou. Mas como se diz por aí à boca cheia, não é caso inédito. Para não ir mais longe, era difícil acreditar que os muitos adolescentes que se comportam como sabemos nas salas de cinema seriam modelos de educação nas salas de aula. Nem podiam ser: têm o exemplo dos pais, que atendem despreocupadamente o telemóvel durante os filmes.

Não tenho dúvidas de que o arrependimento da miúda agora é como a história daquele ladrão que não lamenta tanto o crime, mas o facto de ter sido apanhado. Mas há algo que tem escapado à maioria das análises. Não, não é por que razão 100 mil professores protestam contra as políticas do governo, mas "calam" as humilhações que sofrem às mãos dos seus alunos. Refiro-me, como já devem estar a adivinhar, ao talento do jovem que filmou tudo.

Reparem na forma segura como maneja a "câmara". Como percebe institivamente o poder do drama que se desenrola à sua frente ("É um espectáculo, pá!"), como nunca perde o sentido da acção e se preocupa com o sentido estético ("oh rui, oh rui, sai daí", "Oh gorda, oh faxona, sai daí"), a forma como anuncia o clímax ("a velha vai cair"). E, por fim, o faro comercial de colocar no YouTube.

O cinema português precisa disto. Este minuto e 48 segundos é do mais poderoso que alguma vez se produziu em Portugal. O miúdo vai longe. Dentro de 10 anos, pode estar a fazer o Sorte Nula 2. Ou, sendo do Norte, talvez o Balas & Bolinhos 3.

Sem comentários: