domingo, 9 de março de 2008

Vilas Faias

Não vi o suficiente para ter uma opinião definitiva sobre a "nova" Vila Faia.

A de 1982 é um marco histórico, foi a primeira telenovela portuguesa, etc. E quase toda a gente a viu uma vez que, naquela altura, não havia mais nada para fazer. E o mais importante: era um retrato do país que éramos, para o bem e para o mal. Ajudou a conhecermo-nos melhor.

Por isso, do primeiro e único episódio que vi da Vila Faia 2008, as perguntas que me assaltaram foram: esta Vila Faia representa a sociedade que somos agora? Mudámos muito em 25 anos? E isto terá acontecido à mesma velocidade com que agora passam os créditos no final da telenovela?

Ou continuamos a ser honrosamente foleiros?

Um indício para a resposta a essa pergunta podia ser a insistência em colocar a apresentadora do magazine Só Visto! Marta Leite de Castro a fazer de actriz. Mas adiante. Claro que os tempos são outros. Tecnicamente, a qualidade de imagem e os cenários melhorarem imenso. Na actualização da história, as mulheres não passam mais o tempo todo em casa a fazer tricot, enquanto os homens sustentam a família. Na evidências, há mais carros de alta cilimbrada e telemóveis. Mobílias e penteados mudaram completamente. As roupas bem mais sensuais já não se escondem. Muito menos os corpos...

A qualidade dos diálogos é pior: tanto é o esforço para parecerem naturais que, por vezes, o efeito é o contrário. E confirmando a perda de impacto nos últimos anos, o jovem betinho rebelde não pratica mais boxe, mas Mixed Martial Arts, vulgo MMA, o que vai permitir mostrar muitas cenas de luta para cativar a malta mais jovem.

Por falar em juventude... ao contrário do que acontecia há uns 10-15 anos atrás, agora os elencos das telenovelas são dominados pelos jovens. Os argumentos reflectem as suas preocupações. Daí que o elenco de Vila Faia 2008 também tenha revuvenescido, mas, com três ou quatro excepções, parece que estamos pior servidos de actores do que em 1982. Nessa altura, estes eram iguais a "nós". Talvez isto seja implicância minha, que não tenho as mesmas qualidades estéticas, mas em 2008, parece que toda a gente tem aspecto de vir da linha de Cascais. É tudo muito "giro".

Nesta área, as minhas grandes desilusões são o João Godunha e a Mariette. Albano Jerónimo, não obstante o aspecto cuidadosamente desleixado, com aquele penteado horrível e a barba por fazer, não deixa de ser um menino bonito a querer passar pelo bruto. E as angústias da Inês Castel-Branco parecem derivar mais de estar a fazer uma dieta contrariada do que das agruras da sua existência.

Claro que, visualmente, eles batem aos pontos o Nicolau Breyner, com o seu bigode tuga e barriga saliente, e da prematuramente envelhecida Margarida Carpinteiro. Mas estes representavam Portugal há 25 anos atrás. Sinto falta da brutalidade natural do camionista tão bem representada pelo Nico. E da prostituta Mariette gasta pela vida.


Agora, por que razão não passei do primeiro episódio, transmitido em horário nobre na RTP? Não, não foi por causa dos próximos irem passar ao final das tardes ao fim-de-semana. Já muito se escreveu sobre esse tema. E a Grande Dama Simone de Oliveira fez uma peixeirada das antigas com muita razão: pelos vistos, a distância que vai de grande aposta dos 50 anos do canal do Estado a um horário de exibição que honra o produto, os actores e a ficção nacional é muito pequena.

A verdade é que perdi a vontade por causa da cena do incêndio. A piroseira de colocarem a Inês Castel-Branco aos gritos no meio do assado, agarrada à foto do filho. E o histerismo do Albano Jerónimo a correr no meio daquilo tudo. E principalmente não consegui evitar o horror ao ver aqueles efeitos especiais horríveis.



Então, de acordo com Vila Faia, estamos melhor ou pior? Estamos mais modernaços. Portugal está mais fresco, figurativa e literalmente. De resto, estão lá a família Marques Vila, produtora do vinho Vila Faia, e uma tasca parecida com a da Ti Ermelinda, então interpretada pela saudosa Luisa Barbosa e agora por Márcia Breia. E as intrigas e invejas do costume. Só não sei se isso é por causa do país ou das telenovelas.

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