As gerações que cinéfilos que viram tantos filmes alternativos entre 1975 e meados dos anos 90 reconhecem que as boas memórias que têm daquele espaço são apenas isso: memórias. A forma de ver cinema que recordam já morreu. A realidade é outra, feita de um café sempre à beira de fechar, uma programação dispersa, com as distribuidoras a fugir de estrear ali os seus filmes, e o desaparecimento daquele espírito de tertúlia cinéfila que criou a reputação do Quarteto. A cultura do centro comercial, o home video e crise do prazer de "ver" filmes minaram as salas que ficam ali ao pé da Avenida Estados Unidos da América.
Se tudo correr bem, as salas reabrem no final do mês, prometem-nos. Mas como há problemas que não se resolvem em duas semanas, desconfio que isso só acontecerá se o IGAC fechar os olhos a algumas coisas. Paula Andrade, a inspectora-geral, fez o resumo das irregularidades: falta um sistema automático de detecção de incêndios, há reposteiros de material altamente inflamável a tapar caminhos de evacuação e revestimentos de paredes e tectos em material também muito inflamável, há muita falta de manutenção no recinto, sobretudo ao nível das instalações eléctricas , não há um sistema de extracção de fumos, faltam acessos para deficientes e as saídas de emergência são insuficientes.
Mas o Quarteto não foi sempre assim? Com aquele cheiro a mofo? E aquelas cadeiras? E aquele magnífico sistema de som? Não há queixas dos WC? As características que eram reconhecidas por gerações de cinéfilos são afinal irregularidades? Como é que o IGAC descobriu agora, ao fim destes anos todos, aquele espírito castiço? Resposta: foram os próprios responsáveis pelo complexo de salas a pedir a vistoria. Terá sido eutanásia?
(fotografia SIC)
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